Manduca da praia
Manduca da Praia, homem de negócios, respondeu a 27 processos por ferimentos graves e leves, sendo absolvido em todos eles pela sua influência pessoal e de amigos.
Era pardo claro, alto, reforçado, usava barba grisalha. Sua figura inspirava temores para uns e confiança para outros. Vestia-se com decência, chapéu na cabeça, usava um relógio que era preso por uma corrente de ouro, casaco grosso e comprido que impressionava as pessoas com seu porte, usava como arma uma bengala de cana-da-índia e a ele deviam respeito.
Certa vez na festa da Penha brigou com um grupo de romeiros armados de pau, ao final da briga deixou alguns inutilizados e outros estendidos no chão, entre outras brigas e confusões. Ganhava bastante dinheiro, seu trabalho era uma banca de peixe que tinha no mercado, vivia com regalias e finais de semana saia para as noitadas.
Morador da Cidade Nova, era capoeira por conta e risco assim disse Nulo Moraes. Manduca não participava da capoeiragem local, não recebia influência nem visitava outras rodas, pode-se dizer que ele era um malandro nato. Manduca da Praia conquistou o título de valentão, subestimando touros bravos, que sobre os quais saltava quando era atacado.
Por volta de 1850, Manduca "iniciou sua carreira de rapaz destemido e valentão, dotado de enorme força física e "destro como uma sombra", Manduca cursou a escola de horários integral da malandragem e da valentia das ruas do Rio de Janeiro na época de perigosos capoeiras como, Mamede, Aleixo Açougueiro, Pedro Cobra, Bemetevi e Quebra Coco. Desde cedo destacou-se no uso da navalha e do punhal; no manejo do petrópolis - um comprido porrete de madeira-de-lei, companheiro inseparavel dos valentões da época - na malícia da banda e da rasteira; e com soco, a cabeçada e o rabo de arraia tinha uma intimidade a toda prova. Tinha algo que o destacava e diferenciava de seus contemporâneos - facínoras, valentes e rufiões - fazendo que se tornasse uma lenda viva, e mais tadre um mito cantado e celebrado até os dias de hoje:uma inteligência fria, calculista e implacável; uma sede de poder, de status e de dinheiro; tudo isso aliado a uma visão de comerciante e de homens de negócios. Fez fama e dinheiro. Foi famoso temido e respeitado.
Capoeira Angola
Raízes Africanas
A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas.
No Brasil
Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.
Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
Três estilos da capoeira
A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.
Segue um resumo da vida de alguns dos grandes Mestres da Capoeira:
Antônio Carlos Moraes - Mestre Caiçara. Uma das lendas da Capoeira; sua história mais parece tirada de livros de ficção. Numa época em que o Pelourinho não tinha o glamour de hoje, Mestre Caiçara ditava as regras num território de prostitutas e cafetões; de traficantes e malandros. Todos tinham que pedir a sua benção.
Gravou um dos principais discos da Capoeira Angola onde exemplifica os diversos toques de berimbau, além de cantar ladainhas e sambas de roda. Faleceu em 26 de agosto de 1997.
João Pereira dos Santos - Mestre João Pequeno. Aluno do Mestre Pastinha e um dos mais antigos e importantes mestres da Capoeira Angola em atividade. Pela academia do Mestre João Pequeno, no Centro Histórico de Salvador, passaram alguns dos principais angoleiros da nova geração. É possível vê-lo quase todas as noites jogando e ensinando a tradicional arte da Capoeira
João Oliveira dos Santos - Mestre João Grande, Phd Honóris Causa da Universidade de UPSALA. Um dos principais díscipulos do mestre Pastinha sendo seu Contra-Mestre. Por mais de 40 anos o Mestre João Grande tem praticado e ensinado Capoeira Angola. Ele viajou para África, Europa e América do Norte, onde ensina atualmente, em sua academia na cidade de New York. De lá ele continua mantendo o intercâmbio com a Bahia e acompanhando a movimentação da Associação Brasileira de Capoeira Angola.
Comissão de Instrumentos
A música na Capoeira Angola se relaciona intimamente com o movimento, o jogo e a espiritualidade. Isso acontece na maioria das manifestações culturais africanas. Portanto ela é um elemento essencial a capoeira. Através dela o capoerista expressa seus movimentos e sentimentos, integrando o corpo e a mente na hora do jogo , para marcar este ritmo se utiliza os instrumentos e quem comanda principalmente o tipo de jogo é os instrumentos para ser mais específico eu diria que é o Berimbau que faz tudo isso e os demais acompanham ele.
Sobre o Berimbau
Diz a lenda, que uma menina saiu a passeio , ao atravessar o córrego de um rio , abaixou-se para beber-lhe a água com as mãos. No momento em que saciava sua sede, um homem deu-lhe uma pancada na nuca. Ao morrer, seu corpo se converteu na madeira; seus membros na corda; sua cabeça na caixa de ressonância e seu espírito na música dolente e sentimental. ( Lenda existente no Leste norte da África)
O Berimbau é um instrumento de percussão (corda percurtida) da família dos cordofones e de origem africana. Trazido para o Brasil pelos negros africanos escravos, popularizou-se através das manifestações populares como o samba de roda, candomblé e capoeira entre outras.
Na Bahia existia o Berimbau de boca que era um arco musical com corda de cipó Timbó , a caixa de ressonância, seja sustentando a madeira entre os dentes com a corda fora da boca, seja deixando a corda vibrar na cavidade oral, com a madeira fora.
Atualmente é um instrumento raro de ser encontrado. Existia ainda o berimbau de barrica , hoje chamado simplesmente de Berimbau. No Brasil também era conhecido com o nome Uricungo e/ou Arco Musical. Na África existem várias denominações dadas ao berimbau. São elas: Arco Musical, Bucumbunga, Uricungo, Gunga e etc...
O Berimbau é tocado percurtindo uma vaqueta (varinha de madeira) sobre o arame ( aço de pneu de carro) com uma caxixi ( pequena cesta de palha ou vime) com sementes dentro que produz um som de chocalho que é segurado entre os dedos e na palma da mão, encostando-se um dobrão ( moeda de cobre) no arame de aço , produzindo assim o som característico do instrumento.
São usados três berimbaus:
Um Gunga ou Berra Boi - Berimbau de cabaça grande e som grave, cuja função é marcar o toque base de todos os instrumentos , além de coordenar o ritmo de jogo dos capoeristas;
Um Médio - Berimbau de cabaça de tamanho médio , pouco menor que a do Gunga . Produz som médio grave e tem a função de marcar , tocando o inverso do toque do Gunga.
Um Viola - Berimbau de cabaça menor, produz som agudo e tem a função de solo e improviso.
Complementação
A complementação da instrumentação de uma roda de capoeira se dá com instrumentos de percussão:
1 Atabaque;
2 Pandeiros;
1 Reco-Reco;
1 Agogô.
Os instrumentos ficam na seguinte ordem na Capoeira Angola: Berimbau Gunga , Berimbau Médio, Berimbau Viola , Pandeiro, Pandeiro, Agogô, Reco-Reco, Atabaque.
Mestre pastinha
Pastinha pensando Mestre Pastinha descende de pai espanhol e mãe baiana, foi batizado em 1889 com o nome de Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, na cidade de Salvador-Ba. Conta-se que o princípio de sua vida na roda de capoeiragem aconteceu quando tinha 8 anos , sendo seu mestre o africano Benedito, o que ao vê-lo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe as mandingas, negaças, golpes,guardas e malícias da Angola. O resultado veio logo aparecer , Pastinha nunca mais fora importunado por ninguém.
Mestre Pastinha serviu na Marinha de Guerra do Brasil, onde permaneceu por um período de 8 anos .Mestre Pastinha de tudo fez um pouco,trabalhou como pedreiro, pintor, entregava jornais, tomou conta de casa de jogo; no entanto, o que mais gostava de fazer era ensinar "a grande arte ".Pastinha conhecia a capoeira , sabia como era importante continuar aquela cultura, aconselhava que era preciso ter calma no jogo "quando mais calma melhor pró capoerista", e que a capoeira "ela é o pai e mãe de todas as lutas do Brasil. Sabia muito bem os fundamentos e os segredos existentes na capoeiragem, cantava, tocava os instrumentos e ensinava como um verdadeiro mestre deve fazer. Pastinha foi nas rodas de capoeira um autêntico mestre, um bamba na luta.
Saindo da Marinha em 1910, inicia sua fase de prof. de capoeira ,seu primeiro aluno foi Raimundo Aberê, este se tornou um exímio capoeirista, conhecido em toda Bahia .Segundo Mestre Pastinha , sua primeira academia ficava localizada no Largo do Cruzeiro do São Francisco, na rua do meio do terreiro. Pastinha dizia: "Acapoeira tem muitas coisas.Primeira parte; a capoeira tem seu dicionário; segunda parte: tem seu dicionário; terceira parte : tem seu dicionário e quarta parte ; tem seu dicionário ".Ensinava que quando alguém fosse falar sobre a capoeira dissesse somente o que sabia, "não vá dizer que a capoeira é o que ela não é , nem vá contar o que não viu ninguém falar , então, não vá contar aquilo que não pode contar. Não é todo mundo que vá abrir a boca e dizer eu conheco a capoeira, a capoeira é isso.Nem todos mentais, nem todos sujeitos pode abrir a boca para cantar o que é capoeira não."
Mestre Pastinha era uma pessoa bem humorada, descontraída, bastante receptivo , rico em conhecimento, seu saber transcendia as rodas de capoeira. Era uma pessoa do mundo ideal, camarada amigo, pai e irmão dos discípulos.Viveu intensamente seus longos anos dedicados à capoeira de Angola, classificou-se na história da maladragem, da malícia, como ás. Manteve em sua academia de Angola, a originalidade da eficiência da luta em momento algum fora perdido na academia de Pastinha. Ele contribuiu categoricamente com o seu talento e dedicação à capoeira para que a sociedade baiana e brasileira percebessem a capoeiragem como uma luta-arte imbatível, guerreira, que está além dos paupérrimos preconceitos que há na sociedade.
Vicente Pastinha, foi filmado ,fotografado , entrevistado , gravou disco e deixou um livro , a capoeira nunca mais poderá esquecer este ás , o guardião da capoeira d'Angola. Foi lá na casa 19, no largo do Pelourinho, que funcionava a sua academia , o Centro Esportivo de Capoeira Angola fundada em 1941.Milhares de pessoas estiveram na academia, ficavam impressionadas com as cantorias, com o som dos berimbaus , pandeiros e agogôs e principalmente , com os jogos que lá rolavam . Por fim , foi feita uma reforma no sobrado, disseram ao mestre que ele não tinha com o que se preocupar, após terminadas as obras, ele voltaria para lá , seu lar, sua academia. Nunca mais se ouviu a voz de Pastinha dentro do sobrado, o povo não mais assistiu a uma maravilhosa roda de capoeira de Angola naquele velho sobrado.O Mestre Pastinha não voltou , morreu na escuridão de um quarto decadente no bairro Pelourinho em Salvador.
* Os alunos de Mestre Pastinha usavam calça preta, camisa amarela e jogavam calçados. Era a homenagem que o Mestre fazia ao time de seu coração o Ipiranga que usava as mesmas cores.
* Mestre Pastinha falava : "quando eu jogo até pensam que o velho está bêbado, porque eu fico mole e desengonçado, parecendo que vou cair. Mas, ninguém ainda me botou no chão , e ainda nem vai botar ".
*Traços de Mestre Pastinha- "Mandinga de escravo em ânsia de liberdade" "Capoeira foi para homem,menino, velho e até mulher não aprende quem não quer" "Cada um é cada um" "O négocio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada qual" "Berimbau é primitivo mestre da vibração e ginga ao corpo da gente" "Sou discíplo que aprende um mestre que da lição"
*Mestre Curió explicando a Mandinga - "Existem muitas partes da mandinga, existem a mandinga da magia negra e a mandinga da malícia do capoerista, quando ele se diz realmente capoerista . Mandinga é isso, é sagacidade, é voc6e poder bater no adversário e não bater , você mostra que não bateu porque não quiz."
*Mestre Pastinha explicando a Chamada - "A chamada é uma filosofia do angoleiro, é a malícia do angoleiro. Por que hoje a humanidade se preocupa muito em ficar forte, em fazer artes marciais, em ficar atleta para jogar capoeira. A capoeira não depende disso , a capoeira depende da técnica , malícia e sagacidade. Quando o camarada tá muito brabo dentro da roda, quer bater , quer pisar, eu chamo ele. Ele vai entender do jeito que souber pois a violência do angoleiro não está em dar rasteira, nem pontapé, nem murro. A malícia do angoleiro está realmente nas chamadas."
A origem da Capoeira e Mestre Bimba.
Janeiro 17, 2008 às 8:26 pm · Arquivado em Cultura Popular Brasileira!
O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar.
Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse tráfico. Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitavam pacificamente o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Permambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado.
Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse tráfico. Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitavam pacificamente o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Permambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado.
Distribuindo em pequenas povoações chamadas mocambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palmares pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira. Desenvolvida para ser uma defesa, a Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira ganhou a malícia dos escravos de “ganho” e dos frequentadores da zona postuária. Na Cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arruaças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas.
De acordo com a Associação de Capoeita Mestre bimba são várias as hipóteses sobre a modalidade, existindo duas fortes correntes, uma afirma que a capoeira teria vindo para o Brasil trazida pelos escravos e outra considera a capoeira como uma invenção dos escravos do Brasil. Porém não existem documentos que comprovem estas hipóteses. Muitos estudiosos e historiadores afirmam que sua origem vem da escravidão.
Desenvolvida inicialmente para ser uma defesa, a capoeira, foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeita, os movimentos da luta foram adaptados ás cantorias e músicas africanas para que parecesse uma dança. Assim como no candomblé, cercada de segredos, a Capoeira se desenvolveu como forma de resistência, luta bem valiosa em defesa da liberdade do negro, forma de identidade grupal e afirmação pessoal.
Vários pesquisadores, e historiadores brasileiros estiveram na África e principalmente em Angola e jamais foram encontrados vestígios de uma luta parecida com a nossa Capoeira.
A capoeira é a fusão de várias etnias do povo africano trazido para o Brasil, sob a forma de escravos. Sendo que os negros já nascidos no Brasil, foram os responsáveis pelo seu desenvolvimento aperfeiçoando com o passar dos tempos uma dança e escondendo uma luta com a determinação de liberdade e independência.
Porém é importante saber que o conselheiro Rui Barbosa, quando Ministro da Fazenda do Governo de Deodoro da Fonseca mandou queimar toda a documentação pertinente a escravidão negra no Brasil, achando que tratava-se de uma mancha negra na história do país, na qual deveria ser apagada, essa resolução data de 15 de Novembro de 1890.
“C A P O E I R A R E G I O N A L B A I A N A”
Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) filho de Luiz Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, nasceu no bairro de Engenho Velho, freguesia de brotas, Salvador – Bahia em 23 de novembro de 1900. Recebeu esse apelido devido a uma aposta que sua mãe fizera com a parteira que o “aparou”. Ao contrário do que dona Martinha achava, a parteira disse que se nascesse menino, receberia o apelido de “Bimba” pôr se tratar, na Bahia, de um nome popular do órgão sexual masculino. Começou a praticar capoeira aos 12 anos de idade na estrada das Boiadas, hoje o Bairro Negro da Liberdade, com o africano Bentinho, capitão da navegação Baiana. Foi estivador durante 14 anos e começou a ensinar capoeira aos 18 anos de idade no Bairro onde nasceu no “Clube União em Apuros”. Até 1918 não existia esquinas, nas portas dos armazéns e até no meio do mato.
Era eficaz e muito folclorizada a capoeira da época, devido ao fato de os movimentos que eram extremamente disfarçados, mestre Bimba resolveu desenvolver um estilo de capoeira mais eficiente, inspirando-se no antigo “Batuque” (luta na qual seu pai era um grande lutador, considerado até um campeão) e acrescentando sua própria criatividade, introduziu movimentos que ele julgava necessário para que a capoeira fosse mais eficaz. Então em 1928, mestre Bimba criou o que ele denominou Capoeira Regional Baiana por ser esta praticada única e exclusivamente em Salvador. A partir da década de 30, com a implantação do Estado Novo, o Brasil atravessou uma fase de grandes transformações políticas e culturais, onde os ideais nacionalistas e de modernização ficaram em evidência. Nesse contexto, surge a oportunidade de Mestre Bimba fazer com que o seu novo estilo de capoeira alcançasse as classes sociais mais privilegiadas.
Em 1936 fez a 1ª apresentação do seu trabalho e no ano seguinte foi convidado pelo governador da Bahia, o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação no palácio do governador onde estavam presentes autoridades e convidados. Dessa forma a capoeira foi reconhecida como “Esporte Nacional” e mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass. Pública ao estado da Bahia como Professor de Educação Física e sua academia foi a 1ª no Brasil reconhecida por Lei. O que faz com que Mestre Bimba se destacasse dos demais capoeiristas de sua época, é que ele foi o 1º a desenvolver um sistema de ensino e a ensinar em recinto fechado. Além desse sistema, ele elaborou técnicas de defesa Pessoal até mesmo contra armas. Mestre Bimba preocupava-se demais com a imagem da capoeira, não permitindo treinar em sua academia aqueles que não trabalhavam nem estudavam. Em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, deixou a Bahia, sob acusação de que os “Poderes Públicos” jamais haviam o ajudado. Faleceu em Fevereiro de 1974 em Goiânia, vítima de um derrame cerebral. Mestre Bimba foi embora, mas seus ensinamentos e seus métodos ainda inspiram e influenciam os novos métodos de hoje em dia.
Muitas personalidades da vida política e social da Bahia foram alunas de Mestre Bimba. Atravéz de algumas delas, Bimba levou a “Capoeira Regional” até o palácio do Governo em”1953″ Na época em que o general Juracy Magalhães era Interventor.
Ganhou respeito e admiração da autoridade máxima do Estado e abriu caminho para uma demonstração para o Presidente da República, Getúlio Vargas (Esta apresentação à Vargas foi fundamental para a evolução da Cultura africana em noso pais. Getúlio legalizou a Capoeira, reconheceu-la como a luta nacional brasileira e, posteriormente, oficializou sua prática atravéz do Ministério da Educação).
Mestre Bimba se apresentou pela ultima vez na Bahia, no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFBA, em 1973 antes de seu “exilio” voluntario em Goias.
Dizia-se que em outros tempos, Mestre Bimba aplicava uma “Gravata” no pescoço do indivíduo que quisesse treinar e dizia “Aguenta ai sem chiar”, se aguentasse o tempo que ele mesmo determinava estaria matriculado. Mestre Bimba justificava esse critério dizendo que só queria macho em sua academia. Mais tarde mudou os critérios, submetendo o Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar se o pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. Sendo a próxima fase aprender a “Sequência de Ensino”.O aluno nessa faze aprendia o que se chama “Sequência de Ensino” que eram as oito sequências de movimentos de ataque, esquivas e contra ataque destinadas somente aos iniciantes, simulando as situações mais comuns que o aluno enfrentaria durante o jogo de capoeira. Esse foi o 1º método de ensino criado para ensinar alguém a jogar a capoeira e o calouro treinava essas sequências em duplas sem o acompanhamento dos instrumentos.
Quando estas estivessem decoradas o Mestre dizia: “Amanhã você vai entrar no aço, no aço do Berimbau”. Também fazia parte do aprendizado os “movimentos de projeção” que ensinava o iniciante cair de forma correta, sempre de pé e uma sequência com esses movimentos denominada “cintura desprezada”. Por fim, o aluno aprendia os “golpes ligados” que eram as situações de agarramento que aconteciam em brigas de rua. Era comum naquele tempo dizerem que o capoeirista quando agarrado, não tinha como reagir. Então Mestre Bimba, com sua criatividade ensinava seus alunos quais eram as melhores saídas. Todos esses ensinamentos faziam com que o método de mestre Bimba fosse incompáravel e esse treinamento durava cerca de 3 meses, só então é que o aluno seria batizado.
O batizado era quando o aluno jogava pela 1ª vez na roda com o acompanhamento dos instrumentos que era formado por 1 berimbau e 2 pandeiros. O mestre escolhia o formado que jogaria com o calouro e então toca “São Bento Grande”, toque que caracterizava a capoeira regional, para isso o calouro era colocado no centro da roda para que o formado ou o próprio mestre desse um apelido a ele. Escolhido o “nome de guerra” todos aplaudiam e então o mestre mandava o calouro pedir a “Benção” do padrinho, e ao estender a mão para o formado que o batizou, receberia uma Benção (golpe) que o jogava no chão.
Era necessários pelo menos, 6 meses de treino para se formar na Capoeira Regional. O exame era realizado em 4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do mestre, os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante 4 dias os alunos eram submetidos a algumas situações onde teriam que mostrar os valores adquiridos durante a fase de aprendizado, como por exemplo: força, reflexo, flexibilidade e etc. No último domingo é que o mestre dizia quem havia sido aprovado e então ensinava novos golpes e também marcava o dia da formatura.
A Cerimônia iniciava com uma roda de formados antigos para que as madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a Capoeira Regional. Mestre Bimba ficava ao lado do som, que era formado por 1 Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda e cantando as músicas características da Regional. Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre. Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos e os lenços azuis (Graduação dos Formados) as madrinhas. O paraninfos colocava a medalha ao lado esquerdo do peito do Formado e as madrinhas colocavam os lenços nos pescoços dos seus respectivos afilhados.
A partir dai os formados demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua competência, incluindo os movimentos de “cintura desprezada”, “jogo de floreto” e o “escrete” que era o jogo combinado com o uso dos Balões. Para Terminar, chegava a hora do “Tira-medalha” onde o recém formado jogava com um formado antigo que tentava tirar a sua medalha com qualquer golpe aplicado com o pé. Só então depois de passar por isso tudo é que o aluno poderia se considerar aluno formado de mestre Bimba, tendo direito até a jogar na roda quando o mestre estivesse tocando Iuna que era o toque criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso de especialização.